Uma morte atrás de outra... - VIDA DE BOMBEIRO

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sábado, 17 de agosto de 2013

Uma morte atrás de outra...


17 de Agosto de 2013

Não consigo ficar indiferente a tudo o que tem acontecido nos últimos tempos, os bombeiros sofrem de uma maneira impensável com a perda dos seus homens.
Um bombeiro profissional ou voluntário na expressão mais popular, tem por missão apagar incêndios, urbanos ou florestais, resgatar pessoas e animais em situações de risco, salvaguardar bens materiais, fornecer assistência nos desastres naturais e nos provocados pelo ser humano.
Mas os soldados da paz, são hoje, chamados a intervir em quase todas as áreas da protecção civil, inclusive em acidentes com matérias perigosas, incêndios industriais, resgates de montanha e no mar, entre outras operações de elevado risco.
Os bombeiros têm ainda uma intervenção muito activa e de primordial importância no socorro médico às populações nomeadamente em consequência de catástrofes naturais, acidentes rodoviários, de trabalho, e no transporte e primeiros socorros nas residências.
Assim é fácil de concluir que estes homens e mulheres desempenham uma parte significativa do seu trabalho à comunidade em situações de alto risco.
Não é compreensível nem aceitável que estes homens e mulheres voluntários, pelo trabalho que desempenham, pelos riscos físicos e psicológicos a que estão sujeitos, não tenham as mesmas regalias que têm os profissionais.
Nos últimos dias, temos vivido dias de tristeza pelas mortes a lamentar dos nossos camaradas, como disse há uns dias atrás, estamos a cair que nem moscas, e o que é certo é que tudo continua na mesma.


Os incêndios florestais em Portugal constituem um flagelo, que ano após ano, com mais ou menos intensidade afectam pessoas e bens de forma significativa.
Estes incêndios  evidenciam fragilidades que chamam a atenção para a necessidade de se tomarem medidas prioritárias para a valorização e preservação dos espaços florestais. Mas com tudo isto dizer que nunca mais haverá incêndios florestais será muito arriscado. Apesar de tudo e de todos os esforços constantes, todos temos que nos convencer que esta é uma realidade completamente irrealista.
Infelizmente a nossa cultura continua a ser muito redutora e devia-se apostar muito mais na prevenção. A nossa justiça infelizmente pouco ou nada faz, senão veja-se os pirómanos, que são detidos e passados uns dias saem em liberdade alegando problemas mentais.
Esta história de fogos em Portugal (penso eu) é um manancial de interesses para muitos, é como uma bola de neve que vai crescendo cada vez mais, se não vejamos; gasta-se rios de dinheiro na compra de submarinos (Portugal não está em guerra com ninguém, mas tem submarinos de ataque), gasta-se rios de dinheiro na compra de viaturas (algumas delas de grande cilindrada) para a ANPC, isto para não falar nos fardamentos, gasta-se montanhas de dinheiro nas empresas de aviação de combate a incêndios, e pergunto eu, porque não se utiliza os hélios da força aérea portuguesa (sendo estes aparelhos do estado?) Na base do Montijo estão quites completos de ataque a incêndios para serem montados nos aviões C 130, no entanto estes materiais estão arrecadados a estragarem-se porque vale mais pagar-se a empresas do que usar o que realmente é pago por todos nós. Esta situação só irá acabar quando houver alguém com poderes e autoridade, é que muitos de nós já temos sentido na pele o calor de um incêndio ou de ver morrer um camarada sem poder salvá-lo.


Em tão pouco tempo tantas mortes, será que vale a pena continuar? Estamos a cair que nem moscas e ninguém faz nada, combater para quê, e para quem? Quem vai matar a fome dos meus filhos se um dia chegar a minha hora? E a troco de quê? De uma misera indemnização? Estamos completamente abandonados à nossa sorte, não se entende tantas mortes. Sinceramente, penso que neste momento somos um barco há deriva, as coisas não podem continuar assim, por todos nós e pelos que já partiram. Ver quem de direito a lamentar as nossas mortes não consola ninguém muito menos as famílias que ficam sem sustento.
Acho que o que está a acontecer é desumano.
Mas afinal que sentimento é este que temos dentro de nós?
Sentimento este que nos leva a perder a vida em prol dos outros?
Sentimento este que faz com que deixemos tudo para trás, filhos, esposa, família. Sentimento este que muitos não entendem, e os que entendem não conseguem explicar. Este sentimento, chama-se patriotismo, e são poucos os que entendem o seu significado. Todos os soldados são patriotas, e nós não somos excepção, pois fazemos parte do maior exercito. 


 Habita dentro de mim uma revolta enorme, uma revolta silenciosa porque há coisas que não podemos dizer. Enquanto continuamos a lutar contra o poder do fogo, enquanto continuamos a morrer pelos outros, ainda existem pessoas a criticar o nosso trabalho, vocês que nos criticam, não sabem o que é ser bombeiro, não sabem o que é dar a vida pelos outros. Somos rostos desconhecidos que tudo fazemos por si, daqui a uns dias quando os incêndios terminarem, voltamos a ser esquecidos e empurram-nos para um canto onde ninguém se lembrará de nós. Nós existimos 365 dias por ano, sempre prontos a socorrer quem precisa. A si deixo um desafio, apoie os bombeiros todo o ano, nós não queremos ser uns coitadinhos, nem queremos protagonismo, simplesmente queremos os direitos que merecemos, e reconhecimento merecido.
Além de sermos bombeiros 365 dias por ano, somos também 24 horas por dia e não só quando convém. Mas infelizmente as coisas são como são e é triste quando vestimos a camisola com orgulho e dedicação para ajudar o povo, e só ouvimos coisas desagradáveis. Mas mesmo assim continuamos a fazer o melhor que podemos e sabemos, afinal somos bombeiros para bem e para o mal.
Os bombeiros portugueses são dos seres humanos mais extraordinários que existem. Sem os necessários e devidos apoios ou reconhecimento do estado, generosamente colocam a sua vida ao serviço da sociedade. Generosamente, arriscam a sua vida para zelarem pela vossa segurança e bens, papel este que deveria ser prestado pelo Estado para o qual a mesma sociedade contribui com os seus pesados impostos.
Como tal acho que chegou a hora de parar de se atirar o barro há parede, chegou a hora de dizer chega ao incumprimento das regras de segurança no combate, acho que chegou a hora de dizer às autoridades que está na hora de agirem, chegou a hora de dizer chega de incumprimento por parte dos cidadãos e das suas propriedades. Hoje é o dia de relembrar que ao contrário do que muita gente pensa, os bombeiros não são super heróis, são feitos de carne e osso como qualquer pessoa.
Por muito voluntariado que exista no nosso país, nenhum se compara ao voluntariado de um bombeiro.
Hoje é dia de se dizer, a culpa não é de ninguém, mas sim de todos nós.
É obrigação de todos nós fazer com que imagens destas deixem de fazer parte do panorama nacional!



Enquanto BOMBEIRO apetece-me dizer...
AJUDEM-NOS se querem ser ajudados!!!  


  


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