17 de Outubro de 2007
Tinha sido um dia cheio de adrenalina, além do trabalho diário normal também tínhamos tido um pequeno incêndio urbano, nada de alarmante.
Eram quase sete da tarde fomos chamados para um acidente no Torrão, e saíram para o local o Marco e a Célia na ABSC-03.
Eu estava no quartel e já dava para perceber que algo de grave se estava a passar, pois nós conseguíamos visualizar o acidente do nosso quartel, e o aparato no local era visível ao longe. Falei com a colega da central e fui lá ter noutra viatura.
Bem, quando lá cheguei era uma confusão de todo o tamanho, pessoas aos empurrões umas às outras, algumas aos gritos, quase nem se conseguia trabalhar no meio de tanta confusão.
Aproximei-me do Marco e da Célia e disse-lhes que estava ali para ajudar, a nossa vitima estava muito mal tratada, e ao inicio nem sequer reconheci quem era.
Estávamos nós a imobilizar a vitima, quando o Marco me perguntou se eu ainda não tinha visto quem era, ao qual respondi que não, e então quando olhei fixamente é que consegui ver quem era, o Sr. Clemente, bem eu nem queria acreditar no que estava a ver, dei por mim a pensar que não podia ser ele, afinal de contas ainda à algum tempo atrás tínhamos ido para o incêndio urbano juntos, voltei a olhar e sem duvida alguma que era ele, estava simplesmente irreconhecível.
Durante este tempo foi feita transmissão de dados ao CODU (centro de orientação de doentes urgentes), ao qual nos foi dito que seria enviado apoio medico, o Sr. Clemente ia-se "afundando" cada vez mais e não tinha a menor duvida que se não tivesse apoio medico rapidamente, não se iria aguentar muito tempo.
Felizmente a equipa medica foi extremamente rápida a chegar, e deu-se inicio ao suporte avançado de vida.
Depois de feito todo o trabalho para estabilizar o Sr. Clemente, foi decidido que seria transportado directamente ao Hospital de S. João no Porto, eu olhei para ele e muito sinceramente pensei, "não sei se vai escapar", e digo isto porque num curto espaço de tempo ele ficou completamente transformado, a cabeça parecia um balão a encher, os ferimentos eram muitos, e eu não sabia mesmo se ele iria aguentar. O embate do acidente tinha sido violento, ainda por cima ele ia de motorizada e a estrada em cubos não ajudou nada à queda.
Local do acidente |
Passado algum tempo demos inicio à nossa viagem até ao S. João, foi uma viagem calma mas rápida, devem estar a pensar como será possível uma viagem assim, mas quando digo isto é para tentar descrever que foi uma viagem sem grandes solavancos, mas sempre que podia andava o mais rápido possível, a viatura médica abria caminho à nossa frente o que me facilitava um pouco a condução.
Quando finalmente chegamos ao hospital e abri a porta para o tirar, mais uma vez fiquei boquiaberto, a cabeça do Sr. Clemente parecia um balão a encher prestes a rebentar, estava de tal forma que dei por mim a perguntar ao medico do INEM se aquilo não ia parar, ele simplesmente me disse que não sabia mas esperava que sim. Depois de o termos entregue na urgência, já cá fora estivemos algum tempo à conversa e o medico disse-nos que a situação era muito grave, para ficarmos sempre a contar com o pior. Fui invadido por um sentimento de revolta, de impotência, um sentimento de tristeza.
Mas felizmente o Sr. Clemente ainda está entre nós, com algumas mazelas mas relativamente bem, é sempre complicado quando vamos socorrer os "nossos", não querendo com isto dizer que com os outros é mais fácil, porque não é.
Para o Sr. Clemente deixo aqui um grande abraço, e fique sabendo que pode sempre contar connosco, porque nós, também contamos sempre consigo, com a sua amizade e com a sua boa disposição.
Quero mais uma vez deixar aqui um alerta aos condutores, devemos todos nós ter cuidados redobrados com os motociclistas, pois estes só têm duas rodas, devemos sempre que possível facilitar a sua passagem, e não complicar as coisas, afinal de contas "amanhã" pode ser um de nós ou um familiar nosso. Pensem nisso.
Tenham cuidado na estrada para que situações destas não continuem acontecer, cuidado aos mais sensíveis pois este video é um pouco "puxado" e pode chocar um pouco
Pois é Filipe felizmente o meu pai continua entre nós depois de 7 semanas em coma profundo nos cuidados intensivos do Hospital de S. João, e de uma cirurgia à cabeça precisamente no dia dos meus anos. Mas no meio de todo este desespero sé tenho pena que a "estúpida" que atropelou o meu pai nunca se tenha dignado a dizer a verdade, só que felizmente o meu pai viveu e soube dizer o que tinha acontecido.
ResponderEliminarInfelizmente o meu pai deixou de ter a força e a garra que o "Sr. Clemente" tinha, tocasse a sirene à hora que tocasse o Sr. Clemente lá ia.
Todos nós que conduzi-mos podemos ter acidentes, mas devemos assumir tenha-mos culpa ou não. Infelizmente esta estúpida que atropelou o meu pai mentiu e negou só que as provas eram evidentes, o meu pai ficou mal tratado não dá simples queda que teve mas sim do esmagamento que ela provocou apertando a cabeça entre o chão e o para choques da carrinha dela.
Passados 5 anos nunca foi capaz de pedir desculpa do que fez e como se comportou nem de visitar o meu pai, sendo vizinha e ainda da familia.
Infelizmente estas coisas acontecem, mas temos que estar felizes por termos o teu pai junto de nós.
EliminarÉ nestas alturas que somos confrontados com a nossa propria mortalidade e nos lembramos ´também somos vitimas.
ResponderEliminarUm abraço ao sr clemente e a toda a equipa que o socorreu